sábado, 14 de novembro de 2015

Transporte coletivo X transporte próprio: Eis a questão


                                                                                                                                     Fotos: Arizai Almeida
A população das grandes cidades está cada vez mais refém do trânsito caótico e estressante. 


Todos os dias, milhares pessoas cruzam as estradas e rodovias do nosso país, seja para estudar, trabalhar ou simplesmente cumprir seus compromissos. A quantidade de veículos que circula nas grandes cidades aumenta a cada dia. As tentativas de se resolver o problema dos engarrafamentos têm se tornado uma luta constante para tornar o transporte coletivo mais eficiente, entretanto vemos que até o momento, as rotas alternativas, o sistema integrado ônibus/metrô e outras tantas medidas não tiveram êxito. Ter um automóvel deixou de ser status para ser uma necessidade real no exercício do direito de ir e vir. Entretanto, os congestionamentos têm sido cada vez mais constantes e rotineiros, assim vemos usuários do transporte coletivo e motoristas de carros particulares, todos “navegando” no mesmo barco.

A auxiliar administrativo Rute Alves da Silva, 55 anos, mora em São Lourenço da Mata e todos os dias utiliza o transporte público para ir ao trabalho na cidade do Cabo de Santo Agostinho. São cinco conduções, entre metrô, trem e ônibus, no sistema integrado, pagando apenas uma passagem e gastando cerca de quatro horas para chegar ao seu destino. Ela aponta as principais dificuldades que enfrenta: superlotação, atraso nos horários, o comércio ambulante, o som de telefone celular de alguns usuários, que ainda não distinguem entre o espaço público e particular, e a falta de segurança. “Já presenciei um assalto no ônibus onde estava”, diz.




Já a funcionária pública Tarciana Valença, 42 anos, há três anos comprou um carro. Mora em Recife e trabalha em Jaboatão dos Guararapes, no horário da manhã e no Cabo de Santo Agostinho à tarde. Segundo ela, ter o seu próprio transporte facilita a sua locomoção pelas três cidades, evitando os ônibus sempre cheios, desconfortáveis e com horários que não lhe facilitam o percurso que faz todos os dias. “Se eu ainda utilizasse o transporte público, eu não teria cumprir com os horários dos meus dois vínculos e chegaria sempre atrasada”, declara. Tarciana fala ainda que por isso, todos os seus problemas de mobilidade estão resolvidos. “Os constantes engarrafamentos quando retorno do Cabo de Santo Agostinho, no final da tarde, a condição precária das estradas que encarece a manutenção do veículo e o preço do combustível são as minhas maiores dificuldades no trânsito diariamente”, desabafa.


Segundo informações do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) na última década, o aumento percentual do número de veículos foi onze vezes maior que o da população. De 2001 a 2012, a frota brasileira passou de 24 milhões em 2001 para 50 milhões de veículos. Ou seja, em apenas dez anos, surgiu nas ruas a mesma quantidade de carros criada ao longo de todas as décadas anteriores. Em 2013, com a redução do IPI para a compra de veículos automores, muita gente conseguiu comprar o seu primeiro carro, porém a maioria terminou por optar pelo retorno ao transporte coletivo, por ser mais barato.




É o caso do professor Glayson Correia, 34 anos, que de segunda a sexta, raramente vai ao trabalho dirigindo. “É claro que é bem mais confortável e não perderia tanto tempo, mas a necessidade financeira me obrigou a utilizar mais o transporte coletivo. Conheço outras pessoas que também fazem o mesmo e moram muito mais longe do trabalho do que eu”, afirma. De acordo com o professor, os dois tipos de transportes têm vantagens e desvantagens, resta somente a cada um escolher qual a melhor opção para a sua situação.     

Do Mobilidade Urbana - PE
Arizai Almeida

                                                                        



As cinquentinhas e as cenas dos próximos capítulos

A novela das motos com até 50 cilindradas, ou 50 cc, e popularmente conhecidas como cinquentinhas, continua, e ao que parece, longe do capitulo com final feliz.


                                                                                           Foto: Sérgio Amaral
                                                                                                                                                           
Legislação, acidentes, ocupações de leitos em hospitais públicos, invalidez permanente, óbitos, tudo isso aponta para um caminho e os nossos representantes eleitos, até agora enxergaram outro, melhor dizendo, não enxergam nenhum que não seja em benefício próprio, salvo raras exceções, para não sermos apontados como radicais.Compete aos órgãos e entidades municipais, registrar e licenciar os ciclomotores (50cc), aplicando penalidades e arrecadando multas decorrentes de infrações, de acordo com a Lei 9503/1997 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro).

Por falta da aplicabilidade de uma lei municipal específica, no Recife e na grande maioria dos municípios brasileiros, a fiscalização de forma efetiva da legislação federal é comprometida.
Mesmo com a Legislação Federal, no Recife, em 2010, o SINDMOTO pediu suspensão de emplacamento dos veículos de 50cc pelo Detran-PE.

Atualmente, a prefeitura, de forma irresponsável, não executa a fiscalização das motos cinquentinhas, mesmo com autorização há mais de três anos, por lei sancionada já no mandato do prefeito Geraldo Julio. Nesse vai e vem, no jogo de responsabilidades entre competência de legislar sobre o tema, tramita no Congresso Nacional, proposta de alteração da Lei 9503, mas vai a passos lentos, sem muita vontade política para definição.

Enquanto isso, o Recife assume a liderança nacional no ranking de acidentados. De acordo com levantamentos do Comitê Estadual de Prevenção aos Acidentes com Motos (CEPAM), de janeiro a maio de 2015, nas três maiores emergências do estado, de 239 pacientes entrevistados, a maioria não possui carteira de habilitação (72%), outros tantos andavam sem capacetes (35%), e alguns haviam bebido (25%). O Resultado? 11% foram amputados ou ficaram paraplégicos. 

Em grande parte são adolescentes, jovens e idosos, que, por estarem isentos de uma legislação efetiva e, portanto impunes, guiam sem obedecer às regras de trânsito e sem uso de equipamentos de segurança.A falta de fiscalização é o principal fator para essas estatísticas. O médico João Veiga, coordenador do Comitê de Prevenção declarou à repórter Larissa Rodrigues, do Diário de Pernambuco que “só campanhas educativas tem impacto zero e que a principal preocupação é com adolescentes, já que 75% dos internados na pediatria do HR são menores que pilotavam uma 50cc”.

A situação é tão grave em Pernambuco que o aumento no número de acidentes com motos elevou a demanda por médicos especializados em traumas. Para Mário Jorge Lôbo, vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) “a carência de traumatologistas está diretamente ligada ao crescimento da frota de motos”.
                                                                                       Foto: Sérgio Amaral
                                                                                                                                                   
De acordo com a CTTU(companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife), o Detran-PE e o Cepam, no ano passado, em torno de 12% das pessoas internadas sofreram acidentes de cinquentinha. A secretaria Estadual da Fazenda estima que 200 mil cinquentinhas circulem em Pernambuco e que de 2013 para 2014 houve aumento de 30% em acidentes com esse tipo de veículo. A Secretaria Estadual de Saúde gastou R$ 1 bilhão com acidentados de motos em geral em 2014.                       
                                                                                                                                      
Em resumo as cinquentinhas respondem por 30% dos acidentes com motos em Pernambuco, embora correspondam a menos de 15% da frota do Estado.Mas, há uma luz no fim do túnel. Será?

De acordo com Taciana Ferreira, presidente da CTTU, “a decisão está tomada pelo prefeito Geraldo Julio e estamos elaborando um projeto de lei em parceria com o Detran-PE para regulamentar os ciclomotores.O Projeto chegará à Câmara até a primeira quinzena de junho”.
Para o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, “a fiscalização será reforçada e quando forem registrados pela CTTU, os condutores passarão pelos mesmos problemas de um motorista de carro, por exemplo, caso haja infração”.

                                                                        Foto: Sérgio Amaral
                                                                                               

E mais uma polêmica se desenha para os próximos dias. O custo do emplacamento chegará perto de R$ 1,5 mil. Há quem considere abusivo o valor, por se tratar de veículo de 50 CC, e há propostas para abaixar o valor do serviço e tornar possível a habilitação dos condutores, no entanto, para Braga, baixar o valor do serviço é impraticável. 

A novela continua. Nessa via de acidentes, desvios, polêmicas e mortes. Uma novela onde as personagens são reais. Mortos e inválidos reais, políticos reais, personagens reais. Inclusive eu e você envolvidos nessa enredo, mesmo sem querer e nem perceber.

Do Mobilidade Urbana - PE
Sérgio Amaral