sábado, 14 de novembro de 2015

As cinquentinhas e as cenas dos próximos capítulos

A novela das motos com até 50 cilindradas, ou 50 cc, e popularmente conhecidas como cinquentinhas, continua, e ao que parece, longe do capitulo com final feliz.


                                                                                           Foto: Sérgio Amaral
                                                                                                                                                           
Legislação, acidentes, ocupações de leitos em hospitais públicos, invalidez permanente, óbitos, tudo isso aponta para um caminho e os nossos representantes eleitos, até agora enxergaram outro, melhor dizendo, não enxergam nenhum que não seja em benefício próprio, salvo raras exceções, para não sermos apontados como radicais.Compete aos órgãos e entidades municipais, registrar e licenciar os ciclomotores (50cc), aplicando penalidades e arrecadando multas decorrentes de infrações, de acordo com a Lei 9503/1997 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro).

Por falta da aplicabilidade de uma lei municipal específica, no Recife e na grande maioria dos municípios brasileiros, a fiscalização de forma efetiva da legislação federal é comprometida.
Mesmo com a Legislação Federal, no Recife, em 2010, o SINDMOTO pediu suspensão de emplacamento dos veículos de 50cc pelo Detran-PE.

Atualmente, a prefeitura, de forma irresponsável, não executa a fiscalização das motos cinquentinhas, mesmo com autorização há mais de três anos, por lei sancionada já no mandato do prefeito Geraldo Julio. Nesse vai e vem, no jogo de responsabilidades entre competência de legislar sobre o tema, tramita no Congresso Nacional, proposta de alteração da Lei 9503, mas vai a passos lentos, sem muita vontade política para definição.

Enquanto isso, o Recife assume a liderança nacional no ranking de acidentados. De acordo com levantamentos do Comitê Estadual de Prevenção aos Acidentes com Motos (CEPAM), de janeiro a maio de 2015, nas três maiores emergências do estado, de 239 pacientes entrevistados, a maioria não possui carteira de habilitação (72%), outros tantos andavam sem capacetes (35%), e alguns haviam bebido (25%). O Resultado? 11% foram amputados ou ficaram paraplégicos. 

Em grande parte são adolescentes, jovens e idosos, que, por estarem isentos de uma legislação efetiva e, portanto impunes, guiam sem obedecer às regras de trânsito e sem uso de equipamentos de segurança.A falta de fiscalização é o principal fator para essas estatísticas. O médico João Veiga, coordenador do Comitê de Prevenção declarou à repórter Larissa Rodrigues, do Diário de Pernambuco que “só campanhas educativas tem impacto zero e que a principal preocupação é com adolescentes, já que 75% dos internados na pediatria do HR são menores que pilotavam uma 50cc”.

A situação é tão grave em Pernambuco que o aumento no número de acidentes com motos elevou a demanda por médicos especializados em traumas. Para Mário Jorge Lôbo, vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) “a carência de traumatologistas está diretamente ligada ao crescimento da frota de motos”.
                                                                                       Foto: Sérgio Amaral
                                                                                                                                                   
De acordo com a CTTU(companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife), o Detran-PE e o Cepam, no ano passado, em torno de 12% das pessoas internadas sofreram acidentes de cinquentinha. A secretaria Estadual da Fazenda estima que 200 mil cinquentinhas circulem em Pernambuco e que de 2013 para 2014 houve aumento de 30% em acidentes com esse tipo de veículo. A Secretaria Estadual de Saúde gastou R$ 1 bilhão com acidentados de motos em geral em 2014.                       
                                                                                                                                      
Em resumo as cinquentinhas respondem por 30% dos acidentes com motos em Pernambuco, embora correspondam a menos de 15% da frota do Estado.Mas, há uma luz no fim do túnel. Será?

De acordo com Taciana Ferreira, presidente da CTTU, “a decisão está tomada pelo prefeito Geraldo Julio e estamos elaborando um projeto de lei em parceria com o Detran-PE para regulamentar os ciclomotores.O Projeto chegará à Câmara até a primeira quinzena de junho”.
Para o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, “a fiscalização será reforçada e quando forem registrados pela CTTU, os condutores passarão pelos mesmos problemas de um motorista de carro, por exemplo, caso haja infração”.

                                                                        Foto: Sérgio Amaral
                                                                                               

E mais uma polêmica se desenha para os próximos dias. O custo do emplacamento chegará perto de R$ 1,5 mil. Há quem considere abusivo o valor, por se tratar de veículo de 50 CC, e há propostas para abaixar o valor do serviço e tornar possível a habilitação dos condutores, no entanto, para Braga, baixar o valor do serviço é impraticável. 

A novela continua. Nessa via de acidentes, desvios, polêmicas e mortes. Uma novela onde as personagens são reais. Mortos e inválidos reais, políticos reais, personagens reais. Inclusive eu e você envolvidos nessa enredo, mesmo sem querer e nem perceber.

Do Mobilidade Urbana - PE
Sérgio Amaral

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